Às vezes eu me esqueço da distância que nos separa. Mais que as barreiras físicas, todas aquelas outras que fomos erguendo entre nós com o passar do tempo. Do nada, sentada em um cantinho, pego-me falando mentalmente com você após ler um comentário perdido em uma rede social qualquer. Você diz do frio e eu te chamo de louca, que o calor é insuportável. Crio uma conversa inteira em que você diz que eu não sou parâmetro pra temperatura e eu respondo que todo mundo só faz reclamar do calor. Daí me lembro que você está em um lugar diverso, presa em casa pela neve... e que sequer nos falamos. Como foi que essa distância se instalou? Quem foi que deixou você partir os laços e construir muros? Nem me lembro por que brigamos. Já não consigo. Tento entender quando foi que decidimos nos afastar e deixar morrer a nossa história. E, quando penso em todo o pavimento e mar que se interpõem a nós, choro as lágrimas que não reclamei quando você me deu as costas e partiu. Agora me lembro. Eu despejei em você tanta coisa e você escolheu fugir. Trocar o telefone não seria o bastante, então você fez suas malas e foi desbravar outras partes. E entre mim e você restou o silêncio. Todas as palavras não ditas que ressoam na casa vazia. Hoje, recrio nossas histórias na memória na esperança vã de que você escute e, quem sabe, mude sua forma de pensar. O que me mata é que essa distância psicológica que criamos parece intransponível. Pego-me querendo derrubar esses muros que levantamos, você por medo e eu por teimosia. Se você não queria, eu não ia lutar sozinha. Mas e se, de repente, eu tivesse lutado? Se eu tivesse tomado um avião e ido atrás de você? Será que eu conseguiria te fazer entender que não havia motivos para medos, que estes eram infundados? Será que você quereria entender? Lá se vão tantos tempos e a poeira há muito já baixou. Mas nós pintamos uma estrada sem fim a nos separar, sem uma árvore no caminho. Para você o frio, para mim o calor desumano. Para você o tremor do temor, para mim um temporal de perguntas. E, nesse tempo sem dó, percebo que desejo a sua frieza, pois que melhor que nada seu ao meu redor. Pergunto-me o que restou. Restou essa distância, que meus devaneios cismam esquecer...
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