domingo, 29 de junho de 2014

Reticências

Hoje me deu de escrever. Relendo velhos textos, percebi que uso as mesmas figuras, as mesmas metáforas pra dizer de você. Recorrentemente falo do seu sorriso, volta e meia digo do tecer estórias imaginárias – já que não te tenho de verdade –; sonhos, ilusão, mente insana, todos termos que definem a relação que nunca foi entre mim e você. Escrevo sem fim sobre um assunto morto que insisto em querer reviver. Parece que esse ato de colocar “no papel” as coisas que sinto tem a força anulada cada vez que o assunto é você. Escrevo para tentar tirar de mim essa vontade, mas a cada letra esta fica mais forte. Mas falta... falta você. Esse ser quase inventado, esse você ausente o qual deixa no ar reticências vazias que tento preencher, mas não há sucesso. Escrevo pelos cotovelos e digo sempre o mesmo: o não te ter. Vem então um aperto sem abraço para cada momento que escrevi e nunca foi vivido. A essa altura, chego a temer a loucura: será que você alguma vez existiu? Juro ter te visto e até já ter te sentido, mas cadê que não te acho pela vida? Enquanto sigo, sonho acordada o futuro do "sim" e vivo o "não" calada como quem sabe viver na gravidade zero, flutuando a esmo sem companhia. Não te ter me ensinou certas coisas. Ensinou-me sobre mim e sobre os pequenos prazeres de vencer debates internos e de viver comigo e só. Mostrou-me que estar só não é estar sozinha. Todavia o maior ensinamento foi sobre aprender a desistir das coisas impossíveis (sim, há de se batalhar pelas causas difíceis, mas lutar em uma guerra perdida implica dispêndio de energia e, quiçá, de vida). Foi devido a isso que decidi deixar sua imagem vagar pelo espaço sideral e desligar minha mente para as possibilidades de você - até porque elas não existem. De hoje em diante, sigo sem esperar seus olhos nos meus e espero que estes estejam livres para ver toda a beleza do que há por vir. Você: balão de hélio que se perde da mão da criança. Sua imagem: um borrão de uma memória distante. Eu: ser errante pela vida, em busca do viver.

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