Cresci vendo os monstros por trás do álcool. Fins de festas
macabros em que a cena principal que marcava o festejo era um ser que não
respondia por si e nem sequer conseguia caminhar, se escornava em um balde ou
coisa símile e ali passava horas até ser capaz de se mover, mas ainda não
respondia por si. Outro ser, em outras cenas: agressão verbal, violência
física... cenas no inconsciente que não se apagaram. Naquela época, jurei que
nunca beberia; hoje bebo, mas o álcool nunca parece me afetar.
Cresci observando as falsas relações familiares dos meus e
de outros. Sorrisos escusos e amarelos – não do cigarro ou do café. Horas a fio
de interações fugazes e vazias. Vi a dependência tirar o melhor de muitos que
me cercavam; essa incapacidade de ser só que gela a alma e torna as pessoas
distantes, quando o que buscam é proximidade e calor. Naquela época, jurei que
nunca dependeria de ninguém e que só amaria aqueles de direito; hoje trago em
mim um calor tanto que não sinto frio.
Cresci notando as pessoas se abraçarem com falsidade,
jogarem ao vento palavras sérias como se estas fossem algo qualquer. Vi tantas
vezes se apunhalarem pelas costas, tantas vezes traírem os outros, tantas
outras traírem a si mesmos. Assisti a pessoas que confiaram cegamente em quem
acreditavam e terem a confiança desafiada e virarem pó. Vi tanta coisa ser
calada porque não convinha, porque não era aceitável, porque não cabia. Naquela
época, jurei não me calar; hoje meus pensamentos gritam e mal durmo, em um
sono-vigília sem fim.
Cresci atinando para o descontrole, vendo tantos se perderem
por não saber o melhor para si. Vi gente se enveredando por tudo quanto é
caminho errado e não mais voltar. Analisei cenas sem fim de quem não sabia de
si e se perdeu para sempre por aí. Naquela época, jurei não me descontrolar;
hoje tenho um muro ao meu redor que não deixa nada me atingir, que não me
permite o desatino.
Mas, se esse muro cair... o que será de mim?

Nunca te vi tão verdadeira. Nunca te vi despir o orgulho para dizer de si com tanta inocência. Sabe o que mais me dói? Crescer não deveria significar se afastar da sua criança. Não há o que dizer, mas da minha alma para sua, direi que se eu estivesse lá, eu abraçaria o seu erê, como eu queria que tivessem abraçado o meu. Eu teria segurado a sua mão, como eu queria que tivessem segurado a minha. Eu entenderia o seu pedido de ajuda, no mesmo silêncio que eu gritei. Eu ouviria. Eu perceberia. Eu acreditaria. Eu brigaria. Eu não deixaria. Eu seria o seu muro, como tantas vezes eu precisei que fossem o meu. Mas eu não estive lá. E não estiveram por mim. Vamos seguindo, então, em direção a cura. Não sei se é possível sarar certas coisas, mas não vou deixar que me roubem o direito de sonhar com isso. Sonha comigo?
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