De
cada trinta coisas que quero fazer, atuo em três. De cada cinqüenta coisas que
quero dizer, calo 46. O medo me paralisa, a vergonha me coíbe, a pusilanimidade
me impede de seguir. Eu nem processo o pensamento e a razão já coíbe as
vontades. Às vezes sinto falta de gritar, de dizer o que quero de fato, mas me
guardo e olho a vida nos olhos ao invés de encarar a verdade em mim. Essa mania
me consome aos poucos, porque isso de querer e não fazer acaba por deixar
buracos por todo lado. A palavra não dita bloqueia a garganta e parece que só a
música consegue tirar ou, às vezes, colocar as idéias no papel. A ação não tomada trava o corpo em um lugar
que só é acessado quando o tempo parece parar na vida real. Na minha cabeça, digo
e faço coisas que até eu mesma duvidaria; planejo atitudes; crio casos e
descasos; ando depressa para conseguir concretizar tudo. No tempo do agora,
espero o momento certo, que nunca acredito que chegar. Enquanto fico presa
nesse entre-lugar, acredito ter perdido muita coisa. Quero dar a mão à vida e ser
livre para voar. Tudo o que não faço porque algo em mim me diz para não fazer
fica meio que suspenso em um tempo paralelo. O eu-paralelo ri de mim quando
abaixo a cabeça ao invés de olhar nos olhos; zomba da minha sombra encurvada de
quem quer abraçar e não o faz; caçoa de tudo que deixei passar; faz troça do
reflexo no “espelho de Ojesed” que nunca se realiza. O eu-paralelo vive tudo o
que eu queria viver, enquanto eu escrevo o que não tenho a coragem de fazer. Setenta
e três dívidas internas que busco uma forma de pagar. Uma hora descubro como
chegar no lugar-tempo-paralelo.

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