sexta-feira, 18 de julho de 2014

Paralelo

De cada trinta coisas que quero fazer, atuo em três. De cada cinqüenta coisas que quero dizer, calo 46. O medo me paralisa, a vergonha me coíbe, a pusilanimidade me impede de seguir. Eu nem processo o pensamento e a razão já coíbe as vontades. Às vezes sinto falta de gritar, de dizer o que quero de fato, mas me guardo e olho a vida nos olhos ao invés de encarar a verdade em mim. Essa mania me consome aos poucos, porque isso de querer e não fazer acaba por deixar buracos por todo lado. A palavra não dita bloqueia a garganta e parece que só a música consegue tirar ou, às vezes, colocar as idéias no papel. A ação não tomada trava o corpo em um lugar que só é acessado quando o tempo parece parar na vida real. Na minha cabeça, digo e faço coisas que até eu mesma duvidaria; planejo atitudes; crio casos e descasos; ando depressa para conseguir concretizar tudo. No tempo do agora, espero o momento certo, que nunca acredito que chegar. Enquanto fico presa nesse entre-lugar, acredito ter perdido muita coisa. Quero dar a mão à vida e ser livre para voar. Tudo o que não faço porque algo em mim me diz para não fazer fica meio que suspenso em um tempo paralelo. O eu-paralelo ri de mim quando abaixo a cabeça ao invés de olhar nos olhos; zomba da minha sombra encurvada de quem quer abraçar e não o faz; caçoa de tudo que deixei passar; faz troça do reflexo no “espelho de Ojesed” que nunca se realiza. O eu-paralelo vive tudo o que eu queria viver, enquanto eu escrevo o que não tenho a coragem de fazer. Setenta e três dívidas internas que busco uma forma de pagar. Uma hora descubro como chegar no lugar-tempo-paralelo.


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