quinta-feira, 13 de agosto de 2020

Amor?

Ela achava que não merecia o amor. Acreditava piamente que não era digna. As experiências que tivera foram todas marcadas por culpa, por violências, por dor. Mais velhos ou mais novos, todos os parceiros a deixaram em frangalhos. O amor não deveria ser assim. Como acreditar no amor, como se crer merecedora dele, se sequer sabia o que era o Amor?

Perambulou pela vida sob véus, escondendo-se dos olhares alheios sob camadas de roupas, camadas de máscaras, camadas e camadas de proteção. A entrega não lhe era tangível, pois que não se sabia por inteiro e não sabia de novo se abrir. Dessa forma, desenhava amizades por aí, escondendo-se de si e dos outros.

Quando, um dia, o Amor caiu-lhe ao colo, não soube reconhecer. Presa ainda nas próprias teias, olhou para o Amor e teve medo. Sob tantas camadas, era impossível ser vista como era; e ela já não tinha forças para se despir como deveria. O Amor lhe olhou nos olhos... indagador, perguntou-lhe se poderia fazer morada. Ela muda... não entendia a língua do Amor. O que era essa voz suave que não ameaçava? De onde vinha esse calor que não ultrapassava limites? Como era possível tocar o fogo e não se machucar?

O Amor bem que tentou. Ele ficou por ali, pairando, tentando desmontar as tantas defesas que ela tinha. Ele tentou entrar por várias brechas, mas ela não o reconhecia. O Amor escreveu, o Amor cantou, o Amor gritou, mas ela não entendia. Ele fez de tudo para se aninhar. O Amor tentou, mas até o Amor se cansa.