Andava perdida, distraída,
ensimesmada; sofrera perdas que considerava irreparáveis. Caminhou para dentro
de si, encerrando-se com muros intransponíveis; toda proteção era pouca para
quem perdera todos os sonhos de uma só vez. Não desejava contato e retirou-se
de cena sem mais delongas. Retirou-se, inclusive, de si, pois que insuportável
a convivência com os tantos gritos em sua mente; sabia calar as vozes
exteriores, mas não tinha a mesma sorte com si mesma, portanto, saiu. Foi fora
de si, insanamente talvez, que conseguiu se reerguer. O silêncio durou pouco
tempo, e as vozes retumbavam como o trote de mil cavalos internamente. Em cada
banho de rio, reconstruía-se; em cada banho de chuva, lavava-se de tudo; em
cada medo enfrentado, descobria a coragem. Pouco a pouco, descobriu-se mais
forte, mais plena e bastante em e por si. O tempo e as vozes lhe deram o que
nunca tivera: inteireza e certeza. Soube-se, então, completa, o que é grande
avanço para quem sempre se apoiara em muletas diversas e considerara-se mera espectadora
de ser metade à espera de um encaixe perfeito. Mais consciente de si e dos
arredores, continuou caminhando – agora de cabeça erguida – em busca de uma
vida que não se encerrasse em si, mas fosse um fio contínuo que se preenche de
experiências – boas e ruins – e aprendizados. Não conseguiu derrubar todos os
muros, pois alguns resistem até a si mesma, mas abriu-se para o que o destino
trouxesse e descobriu formas de contornar as barreiras remanescentes. De alguém
que não se permitia, passou a dar vazão às suas vozes próprias e até mesmo às
vozes que antes considerava ensurdecedoras. O contato consigo lhe deu muito
mais que esperava: para quem só queria fugir da realidade, teve a si
apresentadas várias formas de encarar o que o tempo sempre traz. Aletrou-se em
e de si, adquiriu mais conhecimento sobre quem era do que o havia feito por
toda a vida. Achou morada em si, encontrou casa onde buscara apenas refúgio e deparou-se
também com família – coisa que vai muito além de laços sanguíneos comuns. No
tempo do agora, permite-se, alegra-se, caminha e vive. Vive como nunca viveu.
Tem mais do que sempre possuiu e que é coisa que mais importa: autoconhecimento,
autocuidado e amor próprio. Neste novo ciclo, então: leveza, enfim.
