Tudo aqui é diferente, o tempo passa diferente, os costumes são diferentes, as pessoas são diferentes... acho até que eu sou diferente. Não sei se gosto da versão diferente de mim. Mais fria que o usual, menos receptiva que o usual, mais distante que o habitual. Nunca fui dada a mudanças e foram muitas de uma só vez. Carece acostumar, mas ainda não consegui. Carece percepção do novo para que eu consiga me ajustar. Largar tudo por um sonho terá valido à pena quando se passarem seis anos, mas, até lá, sentirei falta de tudo aquilo que me era costumaz. Criarei novos hábitos, decerto. Farei novos amigos, provável. Terei novas raízes, certamente. Mas eu gosto do velho, sou velha de alma e gosto de reminiscenciar. Tudo o que é novo me assusta, tenho medo do tempo passando, de perder laços, de não chegar ao lugar esperado. Temo não saber o que preciso, como lidar. Tremo de pensar que posso sucumbir, que as coisas podem desandar, que as horas podem me enganar. Pelo menos, sempre fui como bambu, envergo, mas não quebro; balanço, mas não caio. Se sempre fui avessa a certas coisas, é porque gosto de certezas e não tê-las me deixa em um não-lugar, longe da realidade tangível que gostaria de ter. Gosto do toque, da certeza, do que não me deixa na mão, do que não se esvai em fumaça, do que deixa rastros para eu seguir. Aqui, minha única certeza, até agora, é a realidade do sonho que tanto busquei. Mantenho minha atenção nisso para não me perder do caminho. O incerto me arrebata, o passado não me deixa, o apego se mantém, mas firmo os pés no chão, observando o que me aguarda, tentando manter a linha. Que tenham paciência os de cá e os de lá. Os daqui com o fato de eu não me mostrar; os de lá com o fato de eu não estar. No fim, parece que não estou nem aqui nem lá, mas estou nos dois lugares, buscando um modo de me encontrar. Uma hora me acho, tenho certeza. Enquanto isso, mantenho acesas as luzes que me guiam para que eu possa conseguir enxergar todas as possibilidades e peço sabedoria para cada escolha que faço. Só quem me acompanha sabe as dores, os dissabores, mas também as alegrias, os prazeres. Na vida, é preciso escolher, e eu escolho estar aqui vivendo isso, mas decidi que não preciso perder o que está lá. Tudo é tempo, o tempo consente, o tempo cura, o tempo permite tudo. Enquanto passa o tempo, crio maneiras de me fazer caber cá e lá, porque decidi que caibo onde eu quiser. Vou seguindo com o que a vida me deu, dando nós para lembrar, apertando laços para não esquecer. Disse-me um sábio amigo: "tudo na vida é merecimento; o que a brisa leva, volta com o vento". Vejo a brisa e aguardo o vento. Sou grata!
